quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Loucas por sexo anal

Loucas por sexo anal

Revista NOVA (http://nova.abril.com.br/edicoes/418/amor_sexo/sexo-anal.shtml?pagina1)

Tantas mulheres acham a coisa desagradável, que a gente até estranha quando algumas vozes se levantam para defendê-la. Mas estas garotas têm bons argumentos a favor da prática.

Texto Neusa Falcão / Foto Sérgio de Divitiis

loucas por sexo anal

"Acho que nasci com talento pra coisa. Foi minha primeira experiência. Era virgem de tudo e de repente pintou um clima irresistível. Na época, ainda não se falava em aids; o grande medo da gente era engravidar. Como eu não tomava pílula e meu namorado não tinha camisinha, fizemos oque, então, era o sexo mais seguro do mundo. Estávamos tão excitados e sintonizados um com o outro que não perguntei o que ele pretendia nem ele me perguntou se podia: simplesmente aconteceu e foi fantástico. Não senti um pingo de dor e os orgasmos que tive mais tarde, com penetração vaginal, nunca chegaram perto daquele. Pra mim, relação completa é com sexo anal. Só tem um porém: preciso estar apaixonada. Senão, nem pensar. É íntimo demais para fazer por simples empolgação e tesão.”

Marta estava doida para contar essa história. Na única outra vez que tentou, a amiga que a ouvia interrompeu com cara de “Deus me livre!” misturada com “Tá bom, vou fazer de conta que acredito” e ainda teve a suprema falta de diplomacia de dizer que achava nojento aquele tipo de conversa. Marta ficou injuriadíssima. Aos 45 anos, publicitária com alguns prêmios no currículo, um de seus maiores orgulhos é esse talento especial na cama. Por isso, animou-se toda para dar depoimento, embora tenha ficado de olho nas minhas reações, pronta para me mandar passear ao menor sinal de descrédito. Então, fiz de tudo para não decepcioná-la. Entre outras coisas, contei a história da Kátia (“Claro, não é o nome verdadeiro; não vou colocar o dela, nem o seu, nem o de ninguém”), uma promotora de eventos chiquérrima que desde a adolescência se imaginava praticando sexo anal. Quando o namorado sugeriu, porém, ela adiou a estréia porque percebeu que ele estava era preocupado em não tirar sua virgindade.

Aos 17 anos (hoje tem 27), Kátia já não era mulher de fazer ou deixar de fazer alguma coisa por medo do que os outros iriam pensar: “Eu não estava nem aí para hímen e fiz questão de perder a virgindade ‘normal’. Mas na mesma semana estreamos o ‘outro lado’. Apesar da nossa inexperiência, com ele foi melhor do que com todos os parceiros que tive depois. Porque, como nós dois éramos virgens, não usávamos camisinha; então, dava para sentir o calor do esperma jorrando. Fico toda, todinha arrepiada só de lembrar...”

E não é que fica mesmo? Foi a única que vi se arrepiar ao falar do assunto. Por outro lado, a maioria admitiu que o grande barato do sexo anal é a sensação de estar fazendo uma coisa que tanta gente (mulheres, principalmente) acha errada, feia, suja. No fundo, a gente curte demais a idéia de ser um tanto depravada. Olhando para a santista Maria Carolina, toda séria em seu comportadíssimo terninho de secretária executiva, ninguém diz que está sempre pronta para o que der e vier. Confesso que ela me deixou meio desconcertada com a franqueza e o linguajar que usou. Ainda mais considerando-se que é uma loira miudinha, de traços delicados, que já fez 30 anos mas não parece ter mais de 20.

“Olha, não sou nenhuma deusa, mas tenho um traseiro que deixa os homens loucos. Seria uma anta se não tirasse partido disso. Desde adolescente, percebi que essa era a vantagem que eu levava sobre a concorrência. Quando ia à praia, com o biquíni bem enfiado atrás, os caras não me davam sossego um minuto. Adoro ser desejada. Por isso, aprendi a fazer na cama o que as outras têm vergonha ou medo de fazer. Aprendi mesmo: li tudo a respeito, pratiquei sozinha, usando primeiro os dedos, depois pênis artificiais cada vez maiores. Tenho uma amiga que fica horrorizada quando conto minhas noitadas, mas bem que gosta de ouvir, a hipócrita. Sei que ela acha que é coisa de vagabunda, mas também sei que daria a vida para ter coragem de fazer igual.”

Maria Carolina é uma das pouquíssimas mulheres que não associam sexo anal com envolvimento emocional. “Isso de ‘Só faço por amor’ é desculpa esfarrapada do mulherio”, garante. “Sinal de que não pegaram o espírito da coisa. Para a maioria, ficar de quatro é humilhante, é a entrega total, coisa que não se deve permitir a qualquer um. Mas quem disse que tem de ficar de quatro? Já experimentei essa posição, mas a minha preferida é ele deitado de costas e eu por cima, dominadora, assumindo o controle. Às vezes, até amarro os braços dele na cabeceira da cama. Pode ser mais poderoso? Tudo é uma questão de ponto de vista.” Como eu estava diante de uma especialista e ainda por cima sem papas na língua, procurei encompridar o papo: mas, vem cá, e a história da dor? Isso não é conversa fiada: muita mulher tenta com a maior das boas vontades e não há jeito. Conversei com uma colega jornalista que há cinco anos procura inutilmente dar, como ela diz, “esse prazer ao marido”, e nada.

Usam toneladas de vaselina, compraram carregamentos de lubrificantes anais dos mais variados sabores e consistências nas sex shops, ela até se previne passando uma pomada à base de xilocaína, e mesmo assim a dor não permite que o pênis entre mais do que 1 ou 2 centímetros. Para esse caso, minha loira e endiabrada entrevistada só vê uma explicação: incompetência do homem. Ou da mulher. Ou dos dois. Porque parte de um princípio que é de uma lógica cristalina: um lugar sensível à dor também é sensível ao prazer.

A moça não deixa de ter razão. E quem concorda com ela em gênero, número e grau — embora de maneira bem mais elegante — é a personal trainer Fernanda, 28 anos, que jamais se deixou abater pelas dificuldades na busca pelo que considera “o prazer absoluto”: “Não tenha dúvida de que, mesmo quando você está muito a fim, na primeira vez pode doer um pouco. É por isso — e só por isso — que acho que a gente deve se iniciar com um namorado apaixonado. Ele vai ser carinhoso, se preocupar com as preliminares, usar a boca e a língua pra te excitar e te deixar mais confiante. Mesmo assim, podem ocorrer alguns problemas. Eu, por exemplo, gozava depressa demais, e aí fica difícil continuar porque incomoda. Precisava me masturbar para ficar perto do orgasmo novamente e dar tempo ao meu parceiro para também chegar lá.

Já com um namorado de quem gostava muito, acontecia o contrário: ele gozava rápido e eu ficava na mão. Coitado, morria de culpa: dizia que era difícil se segurar porque o ânus é bem mais apertado do que a vagina. Com o tempo e a experiência, arranja-se jeito pra tudo”.

A necessidade (no caso, outro nome para tesão) também deixa você espertíssima. Quando teve um caso com um sujeito pra lá de bem-dotado, Fernanda avaliou as possibilidades e percebeu que, sem ajuda, seria impossível conhecer na devida intimidade toda aquela gloriosa exuberância. Ele, que já devia estar acostumado a recusas histéricas, jamais aventou a hipótese remota de “entrar pela porta dos fundos”. O que resolveu o problema foi um anal enlarger (alargador de ânus), uma espécie de tubo que você introduz e vai alargando a circunferência com uma bomba de pressão — “Melhor ainda é usar os movidos a bateria, que vibram, uma glória”. Quando achou que o precioso instrumento tinha reproduzido a contento as dimensões do rapaz sem causar nenhum dano à sua integridade física (muito pelo contrário), ela propôs “uma gostosinha por trás, só para variar”. Ele ficou em êxtase e Fernanda tem certeza absoluta de que até hoje, passados três anos do fim do namoro, o ex ainda a considera a mulher mais completa que conheceu.

Aliás, esse “Eu tenho o que elas não têm” é componente básico da tara por sexo anal. “Dizia-se antigamente que homem se pega pela boca, mas pode apostar que não é bem por aí”, comenta Ana Flávia, programadora visual de 32 anos, casada há sete. E morre de rir lembrando os rodeios que o marido (na época, namorado) fez para tocar no assunto: “Tadinho, cheio de dedos pra não me assustar; nem imaginava que eu já tinha uma respeitável quilometragem. Claro que não abri o jogo na hora, mas bastou a gente transar duas ou três vezes pra ele perceber que eu estava longe, a verdadeiros anos-luz, de ser inexperiente. Ficou meio ressabiado, deu para perceber, mas gostou. Acontece que a maioria dos homens, não sem razão, acha que vai precisar passar uma cantada daquelas para conseguir uma coisa que nem será tão satisfatória assim. Quando não precisam, é a glória, embora ao mesmo tempo se preocupem: ‘Epa!, com essa aí não posso vacilar’”.

Para Ana Flávia, sexo anal é tão especial que não faz sempre. Sua posição preferida é a que ela e o marido chamam de “coqueirinho”: ele deitado e ela por cima. “Também acho excitante sentar no colo dele de costas. Dos dois jeitos a penetração é bem profunda. Curto muito deitar de bruços com um ou dois travesseiros ajudando a levantar o bumbum: fico com as mãos livres para usar um vibrador no clitóris. Outra deliciosa, mas que tem um nome horroroso, é a posição ‘frango assado’ (ou ‘missionário pervertido’, bem mais criativa e sacaninha): um de frente para o outro, com as minhas pernas apoiadas nos ombros dele. Para quem está iniciando, acho ideal porque a penetração não é tão profunda. Só tem um problema: se o homem não for pelo menos razoavelmente bem-dotado, a coisa complica, não funciona. Agora, se estou a fim de muito carinho, nada como a ‘colherzinha’, os dois deitados de lado, bem agarradinhos, porque ele pode ao mesmo tempo me masturbar e acariciar os seios.”

É, mas muita mulher por aí tem engulhos só de pensar no anal por causa do lado sujo da coisa — e não estou me referindo ao aspecto moral. Nenhuma das minhas entrevistadas considerou tal argumento minimamente inteligente. “Isso é a maior besteira”, foi logo se irritando a fogosa Maria Carolina. “Pra começo de conversa, se você sabe que vai fazer, toma suas precauções. Se não tomar, é sinal de que se trata de uma criatura suja em qualquer outra coisa e ponto final. Manter a entrada do reto limpa é mais do que suficiente, até porque tem homem que acha incômodo encontrar algum obstáculo pelo meio do caminho — dizem eles que arranha o pênis. Eu, por exemplo, sempre coloco antes um supositório de glicerina. E vou te contar um segredo: não é só por limpeza, não. Acontece que deixa o chamado canal do prazer muito mais sensível. Faz você subir pelas paredes. Quem ainda não experimentou não sabe o que está perdendo.”

Qualquer lugar sensível à dor é sensível ao prazer

 

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