“Dia destes, apesar de minhas recomendações em contrário, um amigo resolveu fazer o Upgrade de sua Namorada 5.0, transformando-a em Esposa 1.0. No início, tudo correu bem.
Mas logo ele descobriu que Esposa exige muito mais do sistema que Namorada, a ponto de não sobrar quase recurso algum para outros aplicativos. Ao reclamar, alegando que na documentação que acompanha o produto este inconveniente não era mencionado, foi informado de que, apesar de todos os que fazem este tipo de Upgrade alegarem ignorá-lo, o problema é público e notório e qualquer usuário poderia esclarecer a condição de Esposa tão logo instalada configura-se de tal maneira que é carregada durante a inicialização do sistema e passa a monitorar todas as suas atividades. Esta, na verdade, é a fonte das mais graves dificuldades, já que certos aplicativos que até então eram executados rotineiramente sem problemas já não rodam devido às fortes incompatibilidades que despertam em Esposa. Isto acontece tipicamente com os programas de lazer, como Poquer-de-Sexta-Feira, Cervejada-Com-Amigos e, sobretudo, Bar-nos-Fins-de-Semana. Toda vez que ele tenta executar um deles o sistema trava, é um crash severo e é preciso dar nova e cuidadosa partida no sistema, do contrario Esposa passa a ficar bastante instável e a se comportar de modo estranho por algum tempo.
Meu amigo também observou que faz parte do processo de instalação de Esposa a adição de certos plug-ins indesejáveis, como Sogra e Cunhado, e não há opção para impedir sua implementação ou removê-los do sistema. E, sobretudo, tem reclamado que faltam características essenciais no produto, como o botão de Minimizar a opção “Tá bom, já sei, não precisa repetir”, uma forma de inibir a função “Já é tarde, por que você não larga este computador e vem dormir, meu bem?” e, sobretudo, um processo de desinstalação mais simples, que não deixe qualquer traço do aplicativo no sistema, que possa ser executado a qualquer tempo sem questionamento e, principalmente, que não provoque severa perda de recursos ao ser invocado. Depois de uma análise detalhada ele chegou à conclusão de que Esposa poderia melhorar muito se as versões futuras, além de incorporar os aperfeiçoamentos mencionados, dotassem o sistema de multitarefa e o permitissem rodar em modo compartilhado, já que a versão atual faz sérias restrições ao compartilhamento de recursos e cria problemas incontornáveis toda vez que detecta qualquer iniciativa neste sentido. Recentemente, ao tentar instalar Amante 1.0, meu amigo foi surpreendido com uma assustadora mensagem informando que se o processo fosse levado a cabo, antes de desinstalar Esposa, o sistema provocaria sua desinstalação automática, o que eliminaria todos os sinais do aplicativo Money e ele acabaria sem qualquer programa já que, sem Money, Amante recusa-se preemptoriamente a instalar-se, alegando falta de recursos.
Depois de algumas tentativas infrutíferas, ele descobriu que a única forma de contornar este bug terrível é instalar Amante em um sistema completamente independente, jamais conectá-lo ao sistema onde se instalou Esposa e nunca rodar qualquer aplicativo de transferência de arquivos entre eles.
Ou então, eventualmente, acessar um provedor público usando login Anonymous. Neste último caso deve-se tomar extremo cuidado ao rodar aplicativos tipo shareware para evitar contaminação de Esposa com vírus, sinal seguro de compartilhamento de recursos essenciais do sistema, coisa que Esposa definitivamente não admite. Considerando que o atual processo de desinstalação de Esposa é desgastante e traumático, meu amigo se dispôs a ir tocando assim mesmo.
O problema é que ultimamente ele anda cada vez mais ressabiado. É que se deu conta de uma característica inerente ao produto que está se tornando cada vez mais evidente: quanto mais o tempo passa, menos satisfatório torna-se o desempenho de Esposa.”
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